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terça-feira, 30 de abril de 2013

Como o administrador enxerga o mercado de Administração no Brasil

Levantamento realizado pelo Administradores.com mostra que a maioria dos profissionais da área considera que as oportunidades são pouco atrativas; profissionais, acadêmicos e conselhos comentam cenário

Com a consolidação econômica do Brasil e a modernização do mercado nacional, é inegável que as organizações — tanto privadas quanto públicas — têm buscado profissionalizar seus processos. Isso significa aperfeiçoar métodos e também investir na estruturação de equipes formadas por profissionais capacitados e em constante aperfeiçoamento. Como a revista Administradores n° 19 ressaltou, nesse contexto, a Administração é a bola da vez. A cada dia, é maior a demanda por profissionais da área. Os administradores brasileiros, entretanto, ainda não andam muito empolgados.
Um levantamento realizado pelo Administradores.com, entre os dias 20 de fevereiro e 20 de abril deste ano, avaliou a percepção dos profissionais de Administração sobre o mercado de trabalho no Brasil para quem é da área. A maioria até concorda que existe um bom número de oportunidades no país. Para 28,24% dos respondentes, há vagas suficientes e para 36,45% elas são mais que suficientes. Entretanto, 53,09% acreditam que as oportunidades são pouco ou nada atrativas.
Profissionais e acadêmicos têm opiniões diversas sobre o assunto. O mineiro Marcelo Valentim Barros, por exemplo, é formado em Administração, acaba de voltar da Irlanda, onde foi viveu por um ano, estudando inglês, e tem tido dificuldades para conseguir uma recolocação.  A opinião dele resume a visão de um número considerável de profissionais e estudantes ouvidos pelo Administradores.com, que consideram que as empresas fazem muitas exigências, mas oferecem salários ainda baixos.
“As empresas estão exigindo qualificações e experiência exageradas do profissional que, na maioria dos casos, nem teve tempo ainda para tal. Em contrapartida, oferecem salários que classificam como compatíveis com o mercado, mas que não são compatíveis com o custo de vida brasileiro. O caminho a se chegar até as grandes empresas ou é por meio de indicação ou pelos sites, muitas vezes administrados por terceirizados. O processo pode ser muito demorado e algumas delas muitas vezes sequer dão feedback”, afirma Marcelo.
Diego Pinheiro Ferreira, também formado em Administração e com pós-graduação em Logística, é ainda mais enfático. “O cara estuda quatro anos e no fim vai trabalhar em DP (departamento pessoal) ou como assistente administrativo. É muita humilhação. Mesmo com pós, ainda estou penando no DP e em cargos baixos. Precisamos que haja mais vagas de planejamento e estratégia, e não apenas operacional”, afirma.

Info: Editoria de Arte/ Administradores.com
Outra percepção

Embora a visão de Marcelo e Diego reverbere entre muitos outros profissionais e estudantes, ela está longe de ser unânime. Inclusive, é grande a parcela dos que acreditam que o problema não está no mercado, mas sim nos próprios graduados. “Na verdade, não basta o diploma. As pessoas reclamam de salários baixos, mas não se empenham em buscar algo melhor. Não basta entrar na faculdade, conseguir as notas e se formar. Falta conhecimento, conhecimento técnico e envolvimento na área. As oportunidades existem para quem sabe aproveitá-las”, disse o administrador Michel Reis, em um comentário na fanpage do Administradores que foi curtido por mais 23 pessoas.
Outro administrador que respondeu ao Administradores.com no Facebook sobre como avalia o mercado para quem é da área foi Auriori Vieira. E ele cita o próprio exemplo para dizer que não concorda com a opinião majoritária no levantamento realizado pelo portal. Auriori — que é graduado em Administração, com habilitação em Comércio Exterior — conta que nunca teve dificuldades para conseguir emprego. “Nunca tive problemas com relação às oportunidades, elas sempre apareceram para mim. Mas eu sempre busquei me preparar para elas”, afirma.
“Iniciei minha vida profissional como auxiliar administrativo e dois anos depois assumi o posto de gerente comercial na mesma empresa. Dois anos mais tarde, a empresa decidiu que deixaria de atuar somente no mercado interno e passou a comercializar seus produtos com outros países. Eu aproveitei meus conhecimentos adquiridos na faculdade e me tornei gerente de comércio exterior. Depois, me especializei em marketing, me tornei despachante aduaneiro e hoje atuo em grupo com empresas no Brasil e no Paraguai”, complementa Auriori.

Onde estão os problemas?

O presidente do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA/SP), Walter Sígollo, acredita que as oportunidades são bastante atrativas e, para ele, o grande problema é o descompasso existente entre a academia e o mercado. “Apesar de todos os esforços que muitas faculdades e universidades têm feito para aproximar os alunos da realidade, ainda deve haver um empenho maior das instituições de ensino. A velocidade das mudanças na empresa é mais rápida que nas universidades e, portanto, há um descompasso de tempo que pode prejudicar a entrada no mercado. Da mesma forma, alguns profissionais se ressentem de uma melhor qualificação, o que reflete na ocupação de vagas mais atrativas”, afirma.
Antonio Carlos de Souza, presidente do CRA-SC, também acredita que as oportunidades existem e são cada vez mais atrativas. Na opinião dele, a percepção do profissional sobre seu mercado depende muito do momento vivido por cada e, nem sempre, reflete a realidade do cenário. “A percepção de uma pessoa é algo momentâneo, volátil, pode mudar. Eu sou um exemplo vivo deste sentimento, pois percepção é sentimento. Depois da minha formatura, demorei dois anos para me registrar. Só o fiz após conhecer melhor a profissão e onde atua o administrador, sua missão nas empresas, quer sejam públicas ou privadas, seu papel transformador na sociedade”, afirma.

Presidente do CRA/SC, Antonio Carlos de Souza (Foto: divulgação)
  “Respeito os resultados da pesquisa, mas discordo. Já completei 30 anos de vida profissional, atuando também em consultoria e assessoria empresarial. Assim, posso afirmar que existe uma enorme demanda por parte das empresas, em relação a pessoas formadas em administração; todavia profissionalmente capazes. Em síntese, as empresas querem bons profissionais, anseiam por pessoas comprometidas com metas e resultados, que sejam competentes e com habilidades específicas de gestão”, complementa Antonio Carlos.
“Para a maioria das funções administrativas das empresas, o profissional indicado é, sem dúvida, o administrador. Então, mercado existe. Há cerca de 500 mil empresas só em Santa Catarina, para 160 mil bacharéis de Administração. Sendo assim, na minha percepção, sobram vagas”,  acrescenta o presidente do CRA/SC.
Já o presidente do CRA/RJ, Wagner Siqueira, reconhece a percepção constatada pelo levantamento, mas ressalta que o esforço pessoal de cada profissional sempre será o fator decisivo na hora de buscar uma vaga. “De fato, essa constatação (do levantamento) vai ao encontro da pesquisa de mercado qualitativa que o CRA/RJ realizou com os administradores fluminenses em 2012”, afirma.
“A maioria atribui essa pouca atratividade à formação deficiente recebida nas faculdades de Administração e aos baixos salários praticados pelo mercado. Também foi frequente na pesquisa a menção à concorrência com outras profissões e a necessidade de permanente educação continuada. Está claro, portanto, que os profissionais de Administração que conseguem se destacar no mercado de trabalho são aqueles que conseguem, ao longo da vida acadêmica, extrapolar a teoria, saber como aplicar nas organizações os ensinamentos e vivências com que foram confrontados ao longo do curso”, complementa Wagner Siqueira.

Fonte: Simão Mairins, www.administradores.com,

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